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O Ouro como Termômetro da Confiança na Economia Global

A expressiva valorização do ouro, que o levou a ultrapassar a marca de US$ 4.300 por onça, representa o maior ganho semanal do metal desde a crise financeira de 2008. Esta não é uma coincidência, mas sim um indicador macroeconômico degrande relevância. O movimento atual reflete uma deterioração generalizadada confiança de investidores e instituições nas moedas fiduciárias, com destaque para o dólar. O mercado não está apenas reagindo a um único fator, masa uma combinação de incertezas geopolíticas, instabilidade econômica e, crucialmente, a um crescente ceticismo em relação à condução das políticas fiscais e monetárias das principais economias do mundo.

O principal catalisador dessa tendência é a percepção de risco fiscal em países desenvolvidos, como Japão e França, que adotaram políticas expansionistas. O aumento da dívida pública gera dúvidas sobre a capacidade futura dessas nações em honrar seus compromissos sem recorrer à desvalorização de suas moedas. Somam-se a isso as crescentes apostas de que o banco central dos Estados Unidos possa iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros. Essa expectativa reduz a atratividade de ativos que pagam juros, como os títulos do tesouro americano, ediminui o custo de oportunidade de se manter o ouro, um ativo que não gera rendimentos, fortalecendo sua demanda como proteção patrimonial.

Vale citar que, neste cenário de aversão ao risco, a divergência de desempenho entreo ouro e o Bitcoin torna-se evidente. Embora o criptoativo tenha sido defendido por anos como uma reserva de valor moderna – o "ouro digital" –, sua alta volatilidade e a ausência de um histórico consolidado o tornam menos atraente em momentos de estresse sistêmico. O mercado tem demonstrado uma preferência clara pela segurança e pela trajetória milenar do metal precioso. Essa escolha é validada pelo comportamento de grandes players institucionais, principalmente bancos centrais, que continuam a acumular ouro em suas reservas como forma de diversificar e se proteger das flutuações das moedas fiduciárias, um movimento que não encontra paralelo no universo dos criptoativos.

Portanto, a alta do ouro deve ser interpretada para além de sua cotação. Ela funciona como um termômetro preciso que mede o grau de incerteza global. E esse fenômeno tem consequências diretas para economias emergentes como a do Brasil. Essa busca por segurança que impulsiona o ouro também motiva a retirada de capitalde mercados considerados mais arriscados. Dados do Banco Central mostram que asaída de dólares do Brasil nos primeiros nove meses de 2025 já corresponde a 95% de todo o montante que deixou o país em 2024, totalizando um fluxo negativo superior a US$ 17 bilhões. Isso demonstra que o que o "termômetro" doouro indica nos mercados globais já se reflete em fluxos de capitais concretose desafiadores para a economia local.


São Paulo, 22 de outubro de 2025.

Coluna
Por:
Yasmin Costa
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