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Quem financia o Brasil a 15%

1. Contexto macroeconômico: taxa Selic em 15% e crédito bancário sufocado

O Brasil vive um momento singular de política monetária e crédito. A taxa básica de juros, a Taxa Selic, está em 15% ao ano, patamar mais elevado em quase 20 anos, segundo relatos recentes.

1.1. Por que a Selic chegou ao maior nível em quase 20 anos

A elevação ou manutenção da Selic em níveis elevados decorre de diversos fatores: inflação ainda pressionada, necessidade de segurar expectativas inflacionárias, cenário externo instável, risco de câmbio e aumento dos prêmios de risco. A autoridade monetária optou por uma postura contracionista que acaba elevando o custo de capital e restringindo o crédito.
Mesmo assim, o custo elevado de juros produz um efeito de freio: o dinheiro sai caro para as empresas e consumidores, o que reduz investimento e consumo.

1.2. Impactos imediatos sobre indústria, moradia e investimento produtivo

Setores-chave como a indústria e a construção civil estão manifestando sinais de travamento das operações por conta dos juros altos. Por exemplo:

  • Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que cerca de 80 % das empresas industriais apontaram a taxa de juros elevada como a principal dificuldade para a tomada de crédito de curto prazo, e 71 % indicaram que para financiamento de longo prazo a Selic alta era o entrave.
  • O setor da construção também se manifestou, dizendo que a manutenção da Selic em 15% evidencia cenário de estagnação no crédito.
  • A produção industrial chegou a recuar 0,4% entre agosto e setembro, como reflexo da política monetária.

Moradia e investimento produtivo (máquinas, ampliação de plantas, capital de giro) ficam especialmente vulneráveis: com o custo de crédito bancário tão elevado, muitos projetos são adiados ou cancelados, impactando o crescimento econômico.

1.3. O crédito bancário travado: custo, restrição e alternativas evitadas

Quando a taxa básica sobe, o custo do crédito bancário também sobe. Mas não apenas isso: a avaliação de risco das instituições financeiras piora, exigências de garantias aumentam, e as operações de longo prazo ficam mais raras. A consequência é um “crédito travado”, ou seja, mesmo que o empresário queira expandir ou financiar capital de giro, enfrenta custo elevado ou mesmo recusa de crédito.
Além disso, o spread bancário brasileiro já era elevado e esses juros altos só agravam o problema.
Com isso, as empresas começam a buscar alternativas fora do sistema bancário tradicional — e é aí que o mercado de capitais e crédito privado ganham atenção.

2. O papel do mercado de capitais como canal de financiamento alternativo

Diante do aperto do crédito bancário, o mercado de capitais brasileiro apresentou uma resposta notável. As empresas e emissores estão recorrendo a instrumentos como debêntures, securitização de recebíveis (CRI, CRA, FIDC), notas comerciais etc., para captar recursos diretamente do mercado.

2.1. Volume recorde de emissões no 1º semestre de 2025 – mais de R$ 300 bi

Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o mercado de capitais captou R$ 328,4 bilhões no primeiro semestre de 2025 — é o segundo maior volume da série histórica.
Outro levantamento reforça: captações acima de R$ 300 bilhões no primeiro semestre, com destaque para securitização.

Esse movimento sinaliza que, mesmo com taxas de juros elevadas, há fluxo de recursos no mercado de capitais, e as empresas estão aproveitando para emitir dívida ou securitizar recebíveis em vez de depender unicamente de bancos.

2.2. Que tipos de instrumentos estão sendo usados: debêntures, securitização, notas comerciais

Detalhando:

  • As emissões de debêntures somaram aproximadamente R$ 192,7 bi no semestre.
  • Dentro disso, as debêntures incentivadas (via Lei 12.431) registraram captação de R$ 74,5 bi, maior valor da série histórica.
  • Títulos de securitização (como CRA, CRI, FIDC) totalizaram cerca de R$ 78,6 bi no semestre.
  • As notas comerciais também tiveram destaque, com captação relevante em junho.

Esse conjunto mostra que há um leque de instrumentos fora do crédito bancário puro — e cada empresa pode considerar qual deles se encaixa melhor.

2.3. Por que empresas estão escolhendo esse caminho em vez de banco

Algumas razões para esse movimento acelerado:

  • Diluição e diversificação de fontes: Não depender só de bancos, que estão restritos ou caríssimos.
  • Prazo e estrutura mais adequadas: Empréstimos bancários de longo prazo viram “rationing” ou exigências maiores; no mercado de capitais há estruturação de prazo, veículo, garantia, governança.
  • Imagem de mercado e visibilidade: Emitir no mercado de capitais pode dar visibilidade, ajudar no perfil de crédito, na governança.
  • Oportunidade para fluxo de recebíveis ou projetos específicos: No momento em que bancos estão mais apreensivos, o mercado de capitais (especialmente via crédito privado e fundos estruturados) cobre lacunas.
  • Taxa compatível mesmo com juros altos: Em vez de depender da Selic diretamente ou empréstimo bancário altíssimo, empresas com bons fundamentos conseguem taxas relativamente melhores — e prazos mais longos.

Logo, o cenário de juros altos bancários abre espaço para que o mercado de capitais atue como canal alternativo — o que está ocorrendo.

3. Quando o crédito bancário falha, entra o crédito privado e fundos estruturados

Para empresários que enfrentam o travamento bancário, alternativas mais sofisticadas surgem: o crédito privado e os fundos estruturados são instrumentos estratégicos — tanto para quem capta quanto para quem investe.

3.1. O que são fundos estruturados e crédito privado?

  • Crédito privado refere-se a operações de dívida remuneradas fora do sistema bancário tradicional, muitas vezes via títulos privados, recebíveis estruturados, securitização ou fundos de crédito. Existe em gestoras especializadas que estruturam o veículo, avaliam risco, definem garantias etc.
  • Fundos estruturados são veículos de investimento que permitem captar recursos, estruturar projetos ou operações corporativas, agronegócio, imobiliário, recebíveis e combinar governança, segregação de patrimônio, capital de giro, risco e retorno de forma personalizada. A gestora Vela Capital, por exemplo, afirma atuar “em todo o ciclo do FIDC — da originação e análise dos recebíveis à diligência de cedentes e sacados, modelagem de risco, estruturação, registro e gestão ativa”. velacapital.com.br

3.2. Vantagens e riscos desse universo para empresários

Vantagens

  • Acesso a capital mesmo em ambiente bancário restrito.
  • Potencial mais rápido de fechamento se a estrutura estiver bem montada.
  • Personalização da estrutura: prazo, amortização, recebíveis, garantias adaptadas à operação.
  • Possibilidade de manter ou melhorar balanço, reduzir dependência bancária e diversificar fontes de funding.

Riscos

  • Custo possivelmente maior que empréstimo bancário “ideal” (apesar de menor que opção inviável bancária).
  • Menos liquidez, especialmente em veículos menos líquidos ou especializados.
  • Complexidade de estruturação exige governança, relatório, compliance — carga operacional maior.
  • Risco de mercado, risco de crédito dos cedentes/recebíveis, risco de estrutura — se projeto falhar, risco de default.
  • Para empresários, necessidade de preparar documentos, demonstrações, garantias e transparência que bancos talvez não exijam com igual intensidade.

3.3. Exemplo da Vela Capital e sua atuação em fundos estruturados corporates e FIDCs

A gestora Vela Capital posiciona-se exatamente nesse espaço: ela declara que “somos uma gestora de recursos focada em fundos estruturados… nossos fundos conseguem convergir alocação de capital inteligente aos interesses de nossos clientes em sua integralidade”. velacapital.com.br
No segmento “Fundos Estruturados Corporate” da empresa, consta:

“Empresas, ativos imobiliários e operações do agronegócio terão acesso a capital por meio de fundos patrimoniais de investimento — FIP, FII e FIAGRO… Empresas com vendas a prazo e fluxo recorrente de recebíveis terão acesso a capital por meio de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios): veículo que securitiza recebíveis, opera com patrimônio segregado e governança robusta.” velacapital.com.br
Ou seja: para um empresário que vende a prazo, recebe fluxos futuros, ou quer viabilizar um projeto, essa estrutura oferece alternativa estratégica frente ao crédito bancário caro/travado.

4. Estratégias práticas para empresários aproveitarem esse cenário

Se você é empresário ou gestor e está buscando capital ou pensando em refinanciar ou crescer em ambiente de juros altos, aqui vão algumas estratégias práticas.

4.1. Avaliar o perfil de dívida e timing de financiamento

  • Mapear as obrigações existentes: dívida bancária, prazos, amortizações, taxas.
  • Identificar se o custo de dívida futura vai piorar ou se vale antecipar ou renegociar.
  • Verificar se o projeto ou expansão exige crédito bancário ou pode encaixar em estrutura de mercado de capitais ou FIDC.
  • Considerar o “já” vs “esperar”: se as taxas bancárias subirem ainda mais, ou se as garantias exigidas piorarem, pode fazer sentido buscar alternativa externa agora.
  • Balancear risco e oportunidade: com juros em 15% a.a., o “custo de espera” é alto.

4.2. Quando considerar mercado de capitais vs banco vs fundo privado

4.3. Checklist de temas de governança, estruturação e report para captar

  • Ter demonstrações auditadas, projeções de fluxo de caixa, mapa de amortizações.
  • Garantias ou estrutura de recebíveis bem definidas.
  • Governança e compliance — se for fundo, haverá relatório, auditoria, transparência.
  • Definir prazo de amortização, modalidade de remuneração.
  • Avaliar custo total: taxa, estruturação, honorários, governance + amortização.
  • Verificar cláusulas de risco, covenants e mecanismos de proteção ao investidor.
  • Envolver assessoria ou gestora especializada como a Vela Capital: originação, estruturação, registro, gestão.
  • Avaliar impacto no balanço, no rating interno ou externo, no custo de capital da empresa.

5. Cenário futuro: o que esperar se os juros começarem a cair ou subir ainda mais

5.1. Impacto de eventual queda da Selic sobre o crédito bancário e mercado de capitais

Se a Selic começar a recuar, dois efeitos podem ocorrer:

  • O crédito bancário tradicional pode reabrigar, com taxas mais suaves, mais ofertas, retorno da expansão. Isso pode reduzir a vantagem relativa do mercado de capitais ou fundos estruturados, mas também pode aumentar concorrência e reduzir custo de capital.
  • No mercado de capitais, emissões podem se tornar mais atrativas, prazos mais longos, custo menor, investidores mais dispostos. Isso poderia ampliar o universo para empresas menores ou projetos mais arriscados.

5.2. Riscos de manutenção ou elevação da taxa – e como isso afeta o empresário

  • Se a Selic permanecer em 15% ou subir (por exemplo, frente a choques externos ou inflação repaginada), o crédito bancário vai continuar caro/travado. Nesse cenário, empresas que não diversificarem fontes podem ficar engessadas, crescimento limitado.
  • Empresas com dívida bancária indexada ou variáveis podem ver custo maior, risco de inadimplência, necessidade de renegociar.
  • Por outro lado, quem já captou via mercado de capitais ou fundos estruturados pode ter vantagem competitiva, pois diversificou e talvez tenha estruturado prazos mais longos.

6. Conclusão: junção dos temas e chamada à ação

Apesar de o cenário de juros altos (Selic em 15%) estar compressando o crédito bancário, especialmente para indústria, construção e investimento produtivo, o mercado de capitais está respondendo. Com mais de R$ 300 bilhões captados no primeiro semestre de 2025, empresas estão acessando alternativas de financiamento fora dos bancos.
Para empresários, esse momento exige ação: mapear dívida, considerar estruturações alternativas — como fundos estruturados e crédito privado — e se preparar internamente (governança, balanço, fluxo, garantias). Gestoras especializadas, como a Vela Capital, mostram o caminho dessas opções estruturadas.
Ignorar essa dinâmica pode significar perder competitividade num mundo em que o custo de capital e as restrições bancárias se tornam barreiras ao crescimento.

FAQ – Perguntas Frequentes

Q1. Por que o mercado de capitais cresceu em meio a juros altos?

Mesmo com taxas elevadas, o mercado de capitais oferece prazos mais longos, diversificação de fontes e alternativas quando bancos travam. As empresas que têm fluxo de recebíveis ou projetos bem definidos preferem captar agora antes de o custo subir ainda mais. Além disso, instrumentos como debêntures incentivadas tornaram-se mais atrativos.

Q2. Empresas menores conseguem acessar esse tipo de financiamento?

Sim, embora o processo seja mais complexo e dependente de governança, transparência e estruturação adequadas. A securitização de recebíveis ou notas comerciais permite que empresas com fluxo negociável possam acessar recursos. Por exemplo, entre 2021 e 2024 muitas PMEs que emitiram notas comerciais nunca antes tinham acesso ao mercado.

Q3. Qual o custo comparado banco vs mercado de capitais vs fundo privado?

Não há um valor padrão, pois depende de risco da empresa, garantias, prazo, maturidade. Em geral, o banco tradicional pode parecer mais barato, mas em ambiente de juros altos o custo, garantias exigidas e risco de não aprovação são elevados. O mercado de capitais/fundo privado pode ter taxa maior porém com prazo melhor, menor dependência bancária e melhor adequação ao projeto — o que para muitos é vantagem.

Q4. Quais são os principais riscos para quem capta via fundos estruturados?
Os principais riscos incluem liquidez reduzida, risco de crédito dos cedentes ou recebíveis, risco de estruturação (cláusulas, garantias), maior exigência de compliance e governança. Se o projeto falhar, as consequências podem ser mais severas.

Q5. Como o empresário deve se preparar internamente para essa alternativa?

Ele deve: ter demonstrações auditadas, fluxo de caixa projetado, mapa de amortizações, garantir que os recebíveis sejam de boa qualidade, montar garantias, assegurar governança mínima, registrar veículo de emissão (se FIDC, debênture etc), contratar assessoria especializada, avaliar custo total e impacto no balanço.

Q6. Isso serve para moradia/habitação e construção civil também?

Sim — especialmente para construção civil, moradia de média/alta renda ou empreendimentos imobiliários com fluxo futuro definido ou securitizáveis. No entanto, o ambiente de juros altos atinge com força esse setor, pois financiamento habitacional ou crédito para construção ficam mais caros. A alternativa de emissão via mercado de capitais ou estruturação de recebíveis pode ser estratégica, mas exige que o projeto esteja bem montado, com prazos, garantias e risco calibrado.

Referências Bibliográficas
1. ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
Ofertas no mercado de capitais atingem R$ 328,4 bilhões no 1º semestre de 2025.
Disponível em: https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/ofertas-no-mercado-de-capitais-atingem-r-328-4-bilhoes-no-1-semestre.htm.
Acesso em: 11 nov. 2025.
2. VERT Capital.
Mercado de capitais emite mais de R$ 300 bilhões no 1º semestre de 2025.
Disponível em: https://www.vert-capital.com/noticia/mercado-de-capitais-emite-mais-de-300-bilhoes-no-1-semestre-de-2025.
Acesso em: 11 nov. 2025.
3. CAPITAL ABERTO.
Primeiro semestre de 2025 é o maior da série histórica para debêntures incentivadas.
Disponível em: https://capitalaberto.com.br/radar-do-mercado/primeiro-semestre-de-2025-e-o-maior-da-serie-historica-para-debentures-incentivadas/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
4. CNN Brasil.
Juros em 15% travam setores estratégicos da economia brasileira: entenda.
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/juros-em-15-travam-setores-estrategicos-da-economia-brasileira-entenda/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
5. CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Manutenção da Selic em 15% sufoca a economia e isola o Brasil no contexto internacional de juros reais.
Disponível em: https://noticias.portaldaindustria.com.br/posicionamentos/manutencao-da-selic-em-15-sufoca-a-economia-e-isola-brasil-no-contexto-internacional-de-juros-reais-diz-cni/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
6. CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
Manutenção da Selic em 15% evidencia cenário de estagnação no crédito e preocupa setor da construção.
Disponível em: https://cbic.org.br/manutencao-da-selic-em-15-evidencia-cenario-de-estagnacao-no-credito-e-preocupa-setor-da-construcao-aponta-cbic/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
7. VELA Capital.
Fundos estruturados corporates.
Disponível em: https://www.velacapital.com.br/fundos-corporate.
Acesso em: 11 nov. 2025.
8. VELA Capital.
Página institucional – Fundos estruturados e crédito privado.
Disponível em: https://www.velacapital.com.br/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
9. XP Investimentos.
De Frente com as Gestoras: crédito estruturado.
Disponível em: https://conteudos.xpi.com.br/fundos-de-investimento/relatorios/de-frente-com-as-gestoras-credito-estruturado/.
Acesso em: 11 nov. 2025.
10. WIKIPÉDIA.
Spread bancário.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Spread.
Acesso em: 11 nov. 2025.

São Paulo, 11 de outubro de 2025.

Coluna
Por:
Victor Martinez
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